A água da transposição do rio São Francisco renovou as
esperanças dos agricultores do povoado de Algodões, no município de Cabrobó,
Sertão de Pernambuco. Após nove anos, o açude encheu, dando condições para o
plantio. No entanto, a água que vem do eixo norte, que deveria beneficiar 17
municípios, ainda não passou de Cabrobó, onde funciona o sistema de capitação.
A estação de bombeamento começou a
ser construída em 2012 e só foi inaugurada este mês, mas apresentou falhas horas depois da inauguração. Por conta disso, as
bombas tiveram que ser desligadas e várias placas de concreto se romperam.
O problema atinge pessoas como o
agricultor Adailson Alves, morador do município de Terra Nova, também no Sertão
pernambucano. “O que mais a gente espera é ver essa barragem com água. Porque a
gente sabe o quanto ela já foi benéfica para essa sociedade, população, esse
pessoal”, lamenta. A promessa é que a água chegue ao município até o fim deste
mês.
De acordo com o Ministério da Integração Nacional, os
reparos nas placas de concreto que se romperam em Cabrobó já foram feitos. O
órgão também afirma que a água do São Francisco já começou a seguir normalmente
pelos canais da transposição até o reservatório da cidade.
No eixo leste, 96 cidades pernambucanas deveriam receber
água, mas a transposição só chegou ao município de Sertânia. Em todo o estado,
a promessa era atender quase três milhões de pessoas, mas só chegou a menos de
40 mil.
O Governo Federal é responsável por entregar a água do
rio São Francisco aos pontos de captação. E os governos estaduais devem fazer
as intervenções necessárias para que a água chegue aos municípios. A Companhia
Estadual de Abastecimento disse que aguarda a conclusão das obras federais para
fazer a parte dela.
Segundo o Ministério da Integração
Nacional, as obras foram paralisadas várias vezes, porque a Mendes Júnior,
empresa investigada na operação Lava Jato, abandonou os trabalhos alegando
incapacidade financeira.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco foi
um dos principais críticos da forma como a transposição foi planejada. Agora
que as obras estão na etapa final, o comitê faz um alerta. É preciso ter
cuidado com o volume de água retirado do Velho Chico, que já enfrenta uma baixa
histórica.
“O nosso Comitê foi crítico da
maneira como essa obra foi concebida, da velocidade e precipitação em que ela
foi executada, da sua falta de planejamento, enfim de vários aspectos que
criaram toda aquela polêmica, antes da execução da obra. Mas, agora que os
canais da transposição estão praticamente concluídos, o canal leste inclusive,
já em fase preparatória para funcionamento, não adianta mais você ficar olhando
pelo retrovisor, o fato é que já se gastou R$ 10 bilhões, e agora o que se
trata é de resolver uma obra extremamente polêmica, extremamente complexa”,
afirma Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio São
Francisco.
Se na Bacia do São Francisco, o momento é de preocupação, no Sertão, os
moradores tentam manter a fé depois de tantos anos de espera pela água. “É
triste você ver os bichinhos morrer com fome e sem água pra beber e você não
ter uma solução pra resolver o caso”, lamenta o agricultor João Gomes.
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